sexta-feira, 8 de outubro de 2010

MULHER

Um corpo inerte sendo velado e, de repente, um momento único, movimentado, breve, cheio de energia. – “O corpo está quente”, comenta-se baixinho...

Quando penso em mulher, penso em uma mulher festeira, cheia de vida, à frente de seu tempo, penso na minha Nona materna (vovó Lúcia – Lúcia Antonia Zonta Caser). Uma mulher de família de Imigrantes, por natureza Nômade, e Emigrante na condição.

Cedo, horário de levantar e ir para a lavoura, plantar, colher, colher, plantar... rotina, pura rotina, porém cheia de desafios. Chuva, sol, seca, enchente, tempo e fora de tempo, labuta, hora de ir e vir.

Liberdade, autonomia, indisciplina, anarquia, obediência, mistura de tantas coisas, compreensão pouca, acaso muitos.

Livre por um lado, porém presa por ser produto do meio, quando falta opção. Livre ao acreditar na vida, parteira e parideira, mãe de nove filhos, veloz no servir, presente na dor, feliz na alegria da chegada de mais um “bambino”.

Intelectual sem ter a oportunidade de estudar, autodidata, pronta para fazer uso de um novo aprendizado, para testar os conhecimentos. Tapetes e colchas de retalhos, varrer e plantar eram marcas muito presentes no seu dia-a-dia.

Lembranças dela caminhando distâncias imensas e assim recuperando-se totalmente de um derrame. Fisioterapia intuitiva. Nenhuma recomendação. Pura e simples liberdade.

Trágica, briguenta e ao mesmo tempo inconseqüente, cômica. Agitava a todos, fazia intrigas e depois nos cantinhos da casa, se escondia e, se punha a rir de tanta confusão.

Fleumática, em alguns momentos se mostrando calma, tranqüila, eficiente, num certo aspecto até conservadora, prática, diplomata, sabia entrar e sair sem nenhuma dificuldade, de qualquer lugar e ou situação.

Contraditória como ela só, às vezes, calculista, desconfiada, introvertida, contemplativa.

Por amor, essencialmente romântica, ganhou sua paixão. Fez seu amor desistir do seminário e casar-se com ela. Sentia orgulho ao dizer isso, mas tinha consciência do preço dessa conquista, o quanto isso a prejudicara.

Uma mulher sem medo, não temia trovões, nem relâmpagos, não cria em simpatias, nem em religião. Gostava de brincar e por isso se dizia devota de Santo Antonio; fazia pedidos para que as moças se casassem.

Amante de Guaraná, apaixonada por carro, Nasceu na virada do século. Gostava de dizer que nasceu em 1901 – “sou do um”, dizia.

... chama os médicos, explicações científicas, todos procurando entender porque o corpo não esfria. Para quem a conheceu teria uma resposta rápida. Ela sempre foi polêmica, aproveitou até o último instante para intrigar a todos.

Cheia de energia, cheia de bons motivos para levar todos a grandes reflexões.
Incompreendida, porém guerreira. Mulher de uma única paixão e de um único pulmão.
Tinha uma democracia aprendida que se confundia com seu perfil autoritário.
Perdia-se sonhando e muitas vezes a peguei realizando o sonho de ler, de ver, de ser...


                                                                                                          Luzia Caser Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário